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Emoção marcou o encontro entre mãe e filha no CDP feminino de Parnamirim Créditos da foto (Renato Vasconcelos/G1) |
Por G1 - Garota de 10 anos enviou carta a projeto da Polícia Militar do RN. Reencontro de mãe e filha foi na tarde desta quarta (23), em Parnamirim.
“Eu tenho 10 anos. Vou fazer 11 anos no dia 30 de dezembro. O presente
que eu queria neste Natal era ver a minha mãe e abraçar ela. Só isso que eu
queria”. O desejo de Natal de uma menina de 10 anos, escrito em uma carta
endereçada a um projeto da Polícia Militar de Goianinha, município distante 54
Km da capital potiguar, comoveu a comissão que apurou os cerca de 150 pedidos
enviados a corporação. A comoção se deu pelo fato de que a mãe da menina cumpre
pena por tráfico de drogas. O encontro aconteceu na tarde desta quarta-feira
(23) no Centro de Detenção Provisória (CDP) feminino de Parnamirim, na Grande
Natal.
O encontro
entre mãe e filha durou cerca de uma hora e aconteceu dentro do CDP. A menina
foi acompanhada pela madrinha, Luzinete Mendonça, que tem a guarda da menor
desde a prisão da mãe, e pelo capitão da Polícia Militar Claudio Henrique de Sá
Rodrigues, coordenador do projeto 'um sonho de Natal', promovido pela 3ª
companhia do 8º Batalhão da PM no estado. Mãe e filha trocaram presentes e se
emocionaram durante o reencontro. "Eu vou parar. Eu vou sair daqui e vou
fazer tudo certo para cuidar de você", prometeu a mãe à menina.
De acordo com o
capitão da PM, o pedido da menina sensibilizou a todos. "No Brasil
inteiro, temos famílias dilaceradas pelas drogas e pelo tráfico, mas o pedido
desta criança vai na contramão de tudo de ruim que vemos hoje em dia. Esse
desejo tem aquilo do que mais precisamos, que é carinho, afeto, amor. Espero
que tenhamos alcançado o objetivo de fazer com que a mãe do amanhã não siga os
caminhos escolhidos por esta mãe que está sendo visitada hoje”, concluiu o
capitão.
A carta
De acordo com a
própria menina, a ideia de escrever a carta surgiu a partir de uma dica da madrinha.
"Minha tia escutou no rádio que a polícia estava recebendo cartas para
realizar sonhos de Natal. Aí mandou eu escrever minha cartinha fazendo o meu
pedido", explicou.
Segundo a
madrinha, após o envio da carta de Natal, a menina ficou ansiosa pela resposta.
"Ela perguntava o dia todo: 'madrinha, o homem nem veio ainda'. Quando o
capitão Henrique chegou até a nossa casa ela ficou sem reação, mas assim que
ele saiu ela chorou bastante emocionada", conta.
De acordo com o
capitão Henrique, o aviso da visita só foi feito um dia antes, nesta
terça-feira (22), para evitar que a criança ficasse ansiosa. "Avisamos
ontem e a tia disse que ela não dormiu", disse.
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Reencontro que aconteceu na tarde desta quarta, no CDP Feminino de Parnamirim Créditos da foto (Renato Vasconcelos/G1) |
A mãe
A mãe da
menina, Beatriz Mendes da Silva, foi presa em setembro deste ano por tráfico de
drogas. Ela e o marido foram detidos em flagrante durante uma operação
policial. De acordo com Beatriz, ela apenas consumia droga. "Eu era
trabalhadora, trabalhava no roçado, mas consumia droga", disse. Esta é a
segunda passagem de Beatriz no sistema penitenciário do RN por tráfico de
drogas.
"Na
primeira vez eu tinha apenas a droga que ia usar, mas fui presa por tráfico.
Nesta última, um homem apareceu na minha casa e disse para eu guardar um
negócio para ele que alguém de Natal viria para buscar, em troca ele me deu um
pouco de droga para consumir. No outro dia acordei com a polícia dentro da
minha casa. Prenderam até meu marido, que não tinha nada com a história",
relatou Beatriz.
A mulher se emocionou
ao saber que o pedido de Natal da filha foi visitá-la na cadeia. De acordo com
o diretor do CDP feminino de Parnamirim, Elielson Dantas, desde que chegou à
unidade, Beatriz ainda não havia recebido nenhuma visita. Segundo a mulher,
como ela não tem parentes no estado e o marido está preso, não havia ninguém
que pudesse fazer o cadastro no CDP para visitá-la. O diretor confirmou que a
regulamentação do presídio é de que apenas parentes podem visitar as detentas,
no entanto, afirmou que o caso da mulher pode ser enquadrado como uma exceção.
"Quando eu
ainda estava cumprindo pena na João Chaves (complexo penal feminino localizado
na Zona Norte de Natal) ela trocava cartas comigo, dizendo que eu tomasse
cuidado e que não fizesse nenhuma besteira, que quando eu saísse queria morar
comigo", falou emocionada. "Quando eu estava com ela lá fora, ela
cuidava de mim, era muito carinhosa. Sempre quando eu saía, ela escolhia minhas
roupas. Eu amo essa menina", disse Beatriz.