Jornais da França, Espanha, Grã-Bretanha e Suíça acompanharam votação em Brasília manifestando surpresa e até choque com o comportamento de deputados; "The Guardian" cita discurso de Bolsonaro.
PARIS E GENEBRA - A imprensa da Europa acompanhou até o final da madrugada de segunda-feira, 18 (no horário local), a votação da admissibilidade (prosseguimento) do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e demonstrou surpresa e estranhamento com a atmosfera "elétrica" e de "circo" em Brasília. Longe de transmitir uma boa imagem do Brasil no exterior, a sessão da Câmara dos Deputados chamou atenção pela confusão. Para o jornal "Le Figaro", tratam-se dos últimos suspiros de "um sistema político marcado pela corrupção".
A cobertura jornalística não poupou o espetáculo vivido em Brasília ao longo da tarde e noite de domingo, 17. O jornal "Le Monde", o mais importante da França, enviou alerta urgente às 4h11min a seus leitores: "Brasil: a Câmara dos Deputados se pronuncia pela destituição de Dilma Rousseff". O jornal lembrou que "a decisão final está daqui para frente nas mãos do Senado". Mais cedo, o diário destacou a "atmosfera elétrica e confusa" da votação. "A tensão permanece viva entre os deputados brasileiros reunidos em Brasília para uma sessão histórica."
Sites dos principais jornais da Europa destacaram votação na Câmara dos Deputados que deu prosseguimento ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
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Jornal de linha conservadora, "Le Figaro" foi duro em sua análise: "É um sistema político marcado pela corrupção, os pequenos arranjos entre amigos e as alianças contranaturais que estão explodindo", explicou a publicação. "É um sistema que perde seu fôlego", completou a publicação.
Na Espanha, "El País" anunciou: "Um Parlamento com momentos de circo decide o futuro de Rousseff". Na Grã-Bretanha, "The Guardian" destacou o voto do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e a cusparada de Jean Wyllys (PSOL-RJ). "Em uma noite sombria, sem dúvida o ponto mais baixo foi quando Jair Bolsonaro, deputado de extrema-direita do Rio de Janeiro, dedicou seu voto 'sim' a Carlos Brilhante Ustra, coronel que liderou a unidade de tortura DOI-CODI durante a época da ditadura. Rousseff, ex-guerrilheira, estava entre aqueles torturados", explicou o jornal.
Com mais de mil contas bloqueadas envolvendo suspeitos da Operação Lava Jato, a Suíça acompanhou com atenção a votação de ontem no Congresso brasileiro, chegando a mostrar ao vivo no site do jornal "Le Mati". Mas todos indicaram que o impeachment não era o fim da crise. Para o "Tribune de Geneve", a votação "não vai resolver" a situação política brasileira, apontando para a divisão política demonstrada numa sessão marcada por "insultos e tensão". Em praticamente todos os jornais, o prosseguimento do impeachment foi seguido por comentários sobre o fato de o caso deixar um país divido e de que dezenas dos deputados que votaram pelo afastamento estão sendo investigados por corrupção.
Na ONU, gabinetes dos altos dirigentes também foram instruídos a acompanhar o processo. Apesar de não se pronunciar sobre o resultado, o temor das Nações Unidas se referia à eventual violência após os resultados. Tanto o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos como relatores especiais "monitoraram" a situação e indicaram que devem se pronunciar nesta segunda-feira.
No Comitê Olímpico Internacional (COI), o voto também foi acompanhado de perto. Até agora, a entidade não sabe quem será a autoridade brasileira que vai receber a tocha olímpica ao desembarcar no País, no final do mês.
Além das questões protocolares, a ordem no COI é a de blindar o evento no Rio de Janeiro, em agosto, da turbulência política. "Por enquanto, a crise política não está afetando (a organização do evento)", disse Francesco Ricci Bitti, presidente da Associação de Federações Olímpicas de Esportes de Verão. "Estamos fazendo o nosso melhor para que os Jogos ocorram de forma adequada", afirmou.
De O Estadão via Caicó na Rota da Notícia
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