Foto: Professor Pierre Pinto no início e no final do protesto. |
Professor caicoense comemora e encerra greve de
fome após ter perdido cerca de 10kg em nove dias de protesto contra salários de
vereadores que chegavam a quase 90 mil reais por mês.
Na manhã do dia 28 de abril, o professor Pierre
Pinto, 39 anos, desembarcou na rodoviária de Boa Vista após viagem de 11 horas
de Manaus até a capital de Roraima. Toda semana, Pierre enfrenta quase meio dia
de estrada para a realização de seu doutorado em sociedade e cultura da
Amazônia na UFAM (Universidade Federal do Amazonas). No entanto, desta vez, não
foi para casa encontrar sua mulher e suas três filhas como de costume.
O professor comprou uma corrente, pegou um guarda-sol e se acorrentou em
frente à Câmara dos Vereadores de Boa Vista. Desde então, passou apenas a beber
água. Em greve de fome, Pierre protestou contra os altos salários dos
vereadores da cidade - que chegam a quase R$ 90 mil, se consideradas verbas de
gabinete.
“-Foi divulgado que eles usavam esse dinheiro de forma ilícita com
notas frias, funcionários fantasmas. Eu fiquei indignado como cidadão com essa
roubalheira.”
Após nove dias, uma decisão da Justiça determinou a suspensão das verbas
indenizatória, de gabinete e retribuição por acúmulo de exercício de função
legislativa superior. Pierre deixou, então, a frente da Câmara. Mas garante que
estava preparado para não arredar pé dali.
“-Eu ia até o fim. Mas foi difícil
porque eu fiquei longe da minha família, da minha esposa, das minhas filhas,
dormi na rua, levando sol, levando chuva, sem acesso a banheiro, sem
energia.”
Pierre conversou com a reportagem do R7 por telefone. Com voz tranquila,
se dizia um pouco fraco, mas comemorou a decisão da Justiça. Um prato de sopa
de legumes foi o primeiro passo para a recuperação dos cerca de 10 kg perdidos
nesse período.
Apesar da dificuldade em ficar na rua, Pierre
lembra que contou com o apoio de muita gente.
“-Foi uma coisa muito bonita o que aconteceu.
O povo trouxe uma barraca, banquinho, maca, deixavam água. Moradores de rua
dormiram comigo."
No entanto, Pierre não fez apenas novos amigos neste período. O
professor conta que recebeu ameaças de morte.
“-Passavam carros, abaixavam o vidro e
gritavam: - Nós vamos matar você!, e -Você vai morrer!” Quando eu terminei a
greve de fome e fui para casa, duas caminhonetes cercaram o meu carro e me
seguiram. Eu registrei um Boletim de Ocorrência."
Além disso, Pierre também foi abordado por um
político que resolveu oferecer ajuda.
“-No primeiro dia, depois de 5 horas de
greve de fome, sol quente de quase 40 graus, um vereador me ofereceu ajuda para
um tratamento porque eu tenho uma filha deficiente de um olho. Mas eu não
estava lá por causa de dinheiro."
Filho de professores, o pernambucano - morador de
Boa Vista há cerca de dez anos - atua na área há 20 anos. Hoje, dá aulas de
história no Instituto Federal de Roraima. Apesar de não falar sobre a intenção
de realizar novas greves de fome, Pierre deixa claro que motivos para atos
futuros não faltam.
“-O movimento cresceu muito. Aqui em Roraima
existem muitas outras batalhas”.
Em nota, a Câmara Municipal de Boa Vista informa que a redução da verba
já estava definida e que não foi motivada pelos protestos. Segundo a assessoria
de imprensa da Câmara o presidente da Casa Edilberto Veras, já vinha realizando
um estudo sobre reordenamento orçamentário, onde no dia, 05, em coletiva ele
anunciou o resultado, bem como redução das verbas em 40%.
De acordo com a Casa, o salário mensal de um
vereador é de R$10.012,50 e desde o inicio de abril de 2015, a gratificação por
acúmulo de função foi extinta e, nesta terça-feira (5), o presidente da Câmara
Municipal de Boa Vista, o vereador Edilberto Veras informou que as verbas de
gabinete e indenizatórias estão reduzidas a R$ 20 mil cada.
Fonte: R7
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