segunda-feira, 11 de maio de 2015

“Eu ia até o fim”, diz professor Caicoense que fez greve de fome

Foto: Professor Pierre Pinto no início e no final do protesto.
Professor caicoense comemora e encerra greve de fome após ter perdido cerca de 10kg em nove dias de protesto contra salários de vereadores que chegavam a quase 90 mil reais por mês.

Na manhã do dia 28 de abril, o professor Pierre Pinto, 39 anos, desembarcou na rodoviária de Boa Vista após viagem de 11 horas de Manaus até a capital de Roraima. Toda semana, Pierre enfrenta quase meio dia de estrada para a realização de seu doutorado em sociedade e cultura da Amazônia na UFAM (Universidade Federal do Amazonas). No entanto, desta vez, não foi para casa encontrar sua mulher e suas três filhas como de costume. 

O professor comprou uma corrente, pegou um guarda-sol e se acorrentou em frente à Câmara dos Vereadores de Boa Vista. Desde então, passou apenas a beber água. Em greve de fome, Pierre protestou contra os altos salários dos vereadores da cidade - que chegam a quase R$ 90 mil, se consideradas verbas de gabinete. 

 “-Foi divulgado que eles usavam esse dinheiro de forma ilícita com notas frias, funcionários fantasmas. Eu fiquei indignado como cidadão com essa roubalheira.” 

Após nove dias, uma decisão da Justiça determinou a suspensão das verbas indenizatória, de gabinete e retribuição por acúmulo de exercício de função legislativa superior. Pierre deixou, então, a frente da Câmara. Mas garante que estava preparado para não arredar pé dali.
 “-Eu ia até o fim. Mas foi difícil porque eu fiquei longe da minha família, da minha esposa, das minhas filhas, dormi na rua, levando sol, levando chuva, sem acesso a banheiro, sem energia.” 

Pierre conversou com a reportagem do R7 por telefone. Com voz tranquila, se dizia um pouco fraco, mas comemorou a decisão da Justiça. Um prato de sopa de legumes foi o primeiro passo para a recuperação dos cerca de 10 kg perdidos nesse período.

Apesar da dificuldade em ficar na rua, Pierre lembra que contou com o apoio de muita gente.

 “-Foi uma coisa muito bonita o que aconteceu. O povo trouxe uma barraca, banquinho, maca, deixavam água. Moradores de rua dormiram comigo."

No entanto, Pierre não fez apenas novos amigos neste período. O professor conta que recebeu ameaças de morte.

 “-Passavam carros, abaixavam o vidro e gritavam: - Nós vamos matar você!, e -Você vai morrer!” Quando eu terminei a greve de fome e fui para casa, duas caminhonetes cercaram o meu carro e me seguiram. Eu registrei um Boletim de Ocorrência."

Além disso, Pierre também foi abordado por um político que resolveu oferecer ajuda.

“-No primeiro dia, depois de 5 horas de greve de fome, sol quente de quase 40 graus, um vereador me ofereceu ajuda para um tratamento porque eu tenho uma filha deficiente de um olho. Mas eu não estava lá por causa de dinheiro."

Filho de professores, o pernambucano - morador de Boa Vista há cerca de dez anos - atua na área há 20 anos. Hoje, dá aulas de história no Instituto Federal de Roraima. Apesar de não falar sobre a intenção de realizar novas greves de fome, Pierre deixa claro que motivos para atos futuros não faltam.

 “-O movimento cresceu muito. Aqui em Roraima existem muitas outras batalhas”.

Em nota, a Câmara Municipal de Boa Vista informa que a redução da verba já estava definida e que não foi motivada pelos protestos. Segundo a assessoria de imprensa da Câmara o presidente da Casa Edilberto Veras, já vinha realizando um estudo sobre reordenamento orçamentário, onde no dia, 05, em coletiva ele anunciou o resultado, bem como redução das verbas em 40%.

De acordo com a Casa, o salário mensal de um vereador é de R$10.012,50 e desde o inicio de abril de 2015, a gratificação por acúmulo de função foi extinta e, nesta terça-feira (5), o presidente da Câmara Municipal de Boa Vista, o vereador Edilberto Veras informou que as verbas de gabinete e indenizatórias estão reduzidas a R$ 20 mil cada.

Fonte: R7


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Coloque seu comentário aqui