quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Após escrever carta de Natal, menina revê mãe presa; "O presente que eu queria neste Natal era ver minha mãe e abraçar ela"

Emoção marcou o encontro entre mãe e filha no CDP feminino de Parnamirim
Créditos da foto (Renato Vasconcelos/G1)

Por G1 - Garota de 10 anos enviou carta a projeto da Polícia Militar do RN. Reencontro de mãe e filha foi na tarde desta quarta (23), em Parnamirim.


“Eu tenho 10 anos. Vou fazer 11 anos no dia 30 de dezembro. O presente que eu queria neste Natal era ver a minha mãe e abraçar ela. Só isso que eu queria”. O desejo de Natal de uma menina de 10 anos, escrito em uma carta endereçada a um projeto da Polícia Militar de Goianinha, município distante 54 Km da capital potiguar, comoveu a comissão que apurou os cerca de 150 pedidos enviados a corporação. A comoção se deu pelo fato de que a mãe da menina cumpre pena por tráfico de drogas. O encontro aconteceu na tarde desta quarta-feira (23) no Centro de Detenção Provisória (CDP) feminino de Parnamirim, na Grande Natal. 


O encontro entre mãe e filha durou cerca de uma hora e aconteceu dentro do CDP. A menina foi acompanhada pela madrinha, Luzinete Mendonça, que tem a guarda da menor desde a prisão da mãe, e pelo capitão da Polícia Militar Claudio Henrique de Sá Rodrigues, coordenador do projeto 'um sonho de Natal', promovido pela 3ª companhia do 8º Batalhão da PM no estado. Mãe e filha trocaram presentes e se emocionaram durante o reencontro. "Eu vou parar. Eu vou sair daqui e vou fazer tudo certo para cuidar de você", prometeu a mãe à menina.


De acordo com o capitão da PM, o pedido da menina sensibilizou a todos. "No Brasil inteiro, temos famílias dilaceradas pelas drogas e pelo tráfico, mas o pedido desta criança vai na contramão de tudo de ruim que vemos hoje em dia. Esse desejo tem aquilo do que mais precisamos, que é carinho, afeto, amor. Espero que tenhamos alcançado o objetivo de fazer com que a mãe do amanhã não siga os caminhos escolhidos por esta mãe que está sendo visitada hoje”, concluiu o capitão.

A carta
De acordo com a própria menina, a ideia de escrever a carta surgiu a partir de uma dica da madrinha. "Minha tia escutou no rádio que a polícia estava recebendo cartas para realizar sonhos de Natal. Aí mandou eu escrever minha cartinha fazendo o meu pedido", explicou.

Segundo a madrinha, após o envio da carta de Natal, a menina ficou ansiosa pela resposta. "Ela perguntava o dia todo: 'madrinha, o homem nem veio ainda'. Quando o capitão Henrique chegou até a nossa casa ela ficou sem reação, mas assim que ele saiu ela chorou bastante emocionada", conta.


De acordo com o capitão Henrique, o aviso da visita só foi feito um dia antes, nesta terça-feira (22), para evitar que a criança ficasse ansiosa. "Avisamos ontem e a tia disse que ela não dormiu", disse.


Reencontro que aconteceu na tarde desta quarta, no CDP Feminino de Parnamirim
Créditos da foto (Renato Vasconcelos/G1)
A mãe
A mãe da menina, Beatriz Mendes da Silva, foi presa em setembro deste ano por tráfico de drogas. Ela e o marido foram detidos em flagrante durante uma operação policial. De acordo com Beatriz, ela apenas consumia droga. "Eu era trabalhadora, trabalhava no roçado, mas consumia droga", disse. Esta é a segunda passagem de Beatriz no sistema penitenciário do RN por tráfico de drogas.

"Na primeira vez eu tinha apenas a droga que ia usar, mas fui presa por tráfico. Nesta última, um homem apareceu na minha casa e disse para eu guardar um negócio para ele que alguém de Natal viria para buscar, em troca ele me deu um pouco de droga para consumir. No outro dia acordei com a polícia dentro da minha casa. Prenderam até meu marido, que não tinha nada com a história", relatou Beatriz.


A mulher se emocionou ao saber que o pedido de Natal da filha foi visitá-la na cadeia. De acordo com o diretor do CDP feminino de Parnamirim, Elielson Dantas, desde que chegou à unidade, Beatriz ainda não havia recebido nenhuma visita. Segundo a mulher, como ela não tem parentes no estado e o marido está preso, não havia ninguém que pudesse fazer o cadastro no CDP para visitá-la. O diretor confirmou que a regulamentação do presídio é de que apenas parentes podem visitar as detentas, no entanto, afirmou que o caso da mulher pode ser enquadrado como uma exceção.

"Quando eu ainda estava cumprindo pena na João Chaves (complexo penal feminino localizado na Zona Norte de Natal) ela trocava cartas comigo, dizendo que eu tomasse cuidado e que não fizesse nenhuma besteira, que quando eu saísse queria morar comigo", falou emocionada. "Quando eu estava com ela lá fora, ela cuidava de mim, era muito carinhosa. Sempre quando eu saía, ela escolhia minhas roupas. Eu amo essa menina", disse Beatriz.

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